No Cinquentenário das Festas da Padroeira

Durante este fim-de-semana saiu o número 139 do Boletim Informativo de Aguçadoura, Terra Viva.
Um número histórico!
É o primeiro depois da elevação de Aguçadoura a vila. O cabeçalho do nosso jornal também sofreu mudanças.


Neste fim-de-semana em que começaram as Festividades de Aguçadoura 2011, queremos destacar um excelente artigo do nosso jornal, escrito pelo sr. Daniel Fontes, sobre a história das Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem.

Corria o ano de 1961, há precisamente 50 anos, quando um grupo de aguçadourenses, movido por forte sentimento bairrista, dando corpo a uma ideia que havia vários anos vinha ganhando vulto, decidiu começar as festas em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, cujo programa era, de alguma forma, a continuação das que se haviam realizado nos anos 30 do século passado.
O Verão ia quase no fim mas, aproveitando o facto de um novo sacerdote missionário, ordenado a expensas do Sr. José Fontes Alves e esposa, já falecidos, celebrar a sua missa nova na nossa igreja, decidiram finalmente realizar as primeiras festas da Padroeira, depois de construída a nova igreja, as quais decorreram em meados de Outubro daquele ano.
Esse grupo de homens, muitos dos quais vinham dos tempos das festas dos anos 30, tinha dois objectivos fundamentais: dar continuidade às festas nos anos seguintes e, se possível, fazer alguns melhoramentos na igreja e no adro. Conseguiram ambos, já que as festas continuaram ainda com mais brilho e as obras apareceram. Foi construída a torre da igreja, com um carrilhão de 14 sinos, renovado o pavimento do adro e a colocação de quatro enormes candeeiros públicos.
À passagem do cinquentenário das actuais festas, a actual Comissão, que é presidida por um filho de um dos elementos que formara a de 1961, vai prestar-lhes uma significativa homenagem. A Missa Solene da festa, no dia 31 de Julho, além de outras intenções será de acção de graças pela vida que ainda têm quatro sobreviventes do grupo e de sufrágio pelos que já partiram, e será transmitida pela TVI.
Mas não podemos falar das festas da nossa Padroeira sem nos reportarmos às suas origens, em fins do século XIX, quando, em 25 de Julho de 1874, foi inaugurada a capela, a nossa primeira igreja, e nela deu entrada a imagem de Nossa Senhora, sob o título da Boa Viagem, que havia sido trazida da igreja de Santa Maria de Bouro, concelho de Amares, onde figurava com a designação de Nossa Senhora dos Navegantes.
Desde então os habitantes do lugar de Aguçadoura, pertencente à freguesia de Navais, não mais deixaram de venerar com fé inquebrantável e um extremo carinho a imagem da sua Padroeira, cuja efígie muitos aguçadourenses ostentam hoje nos seus carros como que a implorar uma protecção particular para as suas viagens.
Passados 30 anos sobre a construção da capela, mais concretamente em 1904, foi construída a torre e, dois anos mais tarde, verificou-se a ampliação da primeira, conforme inscrição na fronteira que ainda está de pé, por se ter registado um aumento substancial da população do lugar.
Pouco a pouco, as festividades em honra da Padroeira foram ganhando vulto e sabe-se que, no ano de 1916, os habitantes desta terra se empenharam a fundo na realização das festas por terem regressado alguns dos seus filhos da expedição militar a Angola, em plena Grande Guerra. Nesses tempos longínquos o que mais se apreciava nas festas, segundo nos contavam os nossos avós, eram as bandas musicais, o fogo de artifício e os descantes populares.
No decorrer dos anos 20 do século passado, as festas atingiram um ponto alto, ocasionando gastos insuportáveis para a época, com os habitantes a disputarem o melhor e mais artístico cruzeiro entre o Norte e o Sul, cujo despique se manteve aceso por muitos anos. Não se sabe ao certo se só por razões financeiras ou se por outras, os aguçadourenses não conseguiram formar nova comissão para as festas de 1931, começando aqui um longo período de 30 anos sem se realizarem as festas da Padroeira, que tanto entusiasmo e tão grande despique haviam causado.
Em 1933, o lugar de Aguçadoura foi desanexado da freguesia de Navais e, no ano seguinte, foi criada a paróquia com o nome da Padroeira já existente, sendo logo nomeado pároco o Rev. Pe. Augusto Soares.
Com a vinda do primeiro pároco, começou a realizar-se, também no mês de Julho, a chamada Festa do Senhor, cuja procissão não tinha andores mas apenas as crianças da Cruzada, a Juventude Agrária Católica, o pálio com o Santo Lenho e muitas pessoas que nela tomavam parte. O percurso era da igreja ao largo da escola da D. Albertina, onde era montado um cruzeiro enfeitado com papel colorido, e depois até ao nicho da Senhora da Conceição, onde era colocado um mastro gigante, também ornamentado. Durante o percurso todas as casas ornamentavam a frente com cordas e pequenos postes artisticamente enfeitados.
Entrados no ano de 1950, verificando-se um grande crescimento demográfico, começou a pensar-se na construção de uma nova igreja, cujas obras começaram em 1951 e terminaram definitivamente (com a construção da torre) dez anos mais tarde, em cujo período não se realizaram quaisquer festas.
Acabada a igreja, a qual, mesmo sem a torre, abriu ao culto em 1956, começou a ganhar vulto a ideia de retomar a realização das festas em honra da Padroeira, que haviam terminado no início da década de 30, como foi referido atrás, até que, em 1961, surge um grupo de mais de duas dezenas de homens decididos e determinados, que formaram a primeira comissão que se foi renovando e sucedendo até aos dias de hoje.
Foram eles:

Inácio Francisco Valentim
João Carvalho Eusébio
Francelino Martins Torres
David Alves Correia
José Joaquim de Pinho
Isac Lopes Gomes de Amorim
Manuel Gomes de Amorim
Fernando da Costa Eusébio
Manuel Torres de Carvalho
Agostinho Miguel Lopes de Amorim
Afonso Inácio Torres
António Gonçalves Torres
Paulino Torres Carreira
José Torres Carreira
Manuel Torres Carreira
José Joaquim da Costa
José Gomes de Amorim
Avelino André Eusébio
Manuel Gomes de Almeida
Braselino Alves Valentim
Aparício Fernandes Eusébio
Celestino Gomes André da Costa

Os primeiros quatro ainda estão entre nós, enquanto os outros já partiram para o outro lado da vida.

Daniel Fontes

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